Se há aspecto a destacar desta minha nova aventura pela maratona foi, ao contrário do que sucedeu em Lisboa no ano passado, ter feito os 42,195 km sempre a correr e ter conseguido enfrentar o «muro» (felizmente no meu caso chegou tarde, aos 38km) e levá-lo de vencida. Por isso, se Lisboa 2011 foi a primeira, a Porto 2012 foi a primeira na plenitude!
(primeira passagem junto da minha «mais que tudo» e do meu filhote, junto à ponte de D. Luís)
The day before
Por motivos profissionais não me foi possível viajar para o Porto na sexta-feira como pretendia, por isso a viagem teve de ser feito no sábado. Saída tardia, como habitual, não sem antes ter ouvido do meu filho a seguinte resposta ao meu incitamento "vamos lá a despachar": - "Pai, qual é a pressa? A corrida é só amanhã." :)
Cheguei ao Porto à hora do almoço, a Paula e o Afonso ficaram no shopping, e eu fui levantar o dorsal e aproveitar para ver a feira e ir à pasta party. O levantamento dos dorsais foi um pouco lento para o meu gosto e a fila para pasta party era desencorajadora, mas quis o acaso que encontrasse o Miguel Paiva (após 4 anos de blogoesfera, we meet at last!) e fizesse com que a espera e a refeição fosse passada agradavelmente a conversar.
As sensações fisicas ao longo do dia, foram as habituais em mim depois de conduzir (sou muita fraquinho, 300 km de carro e fico derreado), pelo que jantei junto ao hotel (novamente massa...) e deitei-me cedo.
The big day
Com tudo preparado de véspera, levantei-me às 7h30, despachei as formalidades higiénicas e alimentares e às 8h15 já estava a caminhar em direção à partida. Primeira constatação: frio e bastante vento, o que não deixa de ser curioso se atendermos que, no dia anterior, uma das minhas preocupações era o calor que se poderia fazer sentir pelo facto da mudança da hora significar que iriamos enfrentar os últimos quilómetros já depois das 13 horas "antigas".
Às 9h00 foi dada a partida e comecei de forma descontraida para passar a subida inicial sem forçar. Na rotunda da Boavista o gps assinalou o primeiro quilómetro em 4:19! Algo de estranho se passava com o meu garmin, tinha a noção de que não era possível ter feito um km tão rápido. Assim que comecei a descer a Av. da Boavista tive a confirmação de que o gps não se estava a dar bem com os ares do Norte...os registos de kms começaram a suceder-se de forma aleatória...ok, plano B, só olhar para o relógio às passagens pelas placas da organização.
Por volta dos dois quilómetros juntei-me a duas atletas da Porto Runners- Janine Coelho e Ester Aires - e assim que ouvi a última comentar que no ano anterior tinha feito 3 horas e 15 minutos, decidi que tinha encontrado a minha companhia para a prova.
Os quilómetros foram passando e eu fui seguindo à risca o meu plano de abastecimento, um gel a cada 7-8 km e beber água (cerca de 1/3 de garrafa de 33 cl) em cada estação. Os primeiros 10 km foram feitos em 44:41 (média 4:28/km). Estava a correr mais rápido do que pretendia (4:35/km) mas era o preço a pagar para ter companhia e, acima de tudo, parecia-me que tinha conseguido controlar o entusiasmo que a descida da Av. da Boavista proporciona.
Aos 14 km deu-se a separação entre os atletas que competiam na family race (15 km) e os da maratona. O ritmo a que seguiamos mantinha-se constante mas após a passagem do castelo da Foz começámos a enfrentar vento contra bastante forte. Por sorte criou-se um grupo mais numeroso de atletas o que me possibilitou ir protegendo do vento. Aos 20 km fui confrontado com a segunda decisão estratégica na gestão da corrida. As minhas colegas de viagem não reagruparam após o abastecimento. O que fazer? Deixar-me ficar para trás para seguir com elas por causa da referência das 3h15 ou manter-me no grupo e assim continuar "protegido" do vento. Optei pela segunda hipótese, e parece-me que foi o mais acertado. O grupo manteve-se unido até passarmos ao lado de Gaia. Aí com vento a favor, cada um foi à sua vida.
A passagem à meia maratona foi feita em 1h36'36''. Mais lento que o ano passado em Lisboa (1h34'18'') mas dentro dos parâmetros que eu admitia (1h35 + 1h40).
Com o vento a favor, a primeira parte do percurso em Vila Nova de Gaia fez-se sem dificuldade, mas assim que iniciei o retorno à ponto de D. Luís, com o vento contra, sinceramente, fiquei à espera que o «senhor da marreta» aparecesse a qualquer momento. Cheguei aos 30 km com 2h17'34'' (em Lisboa passei ligeiramente mais rápido, 2h16'36'', mas foi precisamente onde parei e comecei a andar) e mentalmente interiorizei que a partir dali, desde que eu continuasse a correr, seria sempre a ganhar tempo ao meu recorde pessoal.
«doping emocional»
A escolha do local onde a Paula e o Afonso se posicionaram para me ver passar não foi inocente. Sabia que junto à ponte de D. Luís poderiam-me ver 3 vezes, e dois desses avistamentos seriam feitos numa altura crítica (31-32 km). O contacto visual e os «high five» foram um tónico anímico importante, tal como foi o transpor a placa do 33º km (a partir daqui a contagem decrescente dos km que faltavam passou a ser de apenas um dígito). Nesta fase ter-me-ei entusiasmado em demasia e fiz tudo (pelo menos mentalmente) para acelerar o ritmo que levava. Se foi esse "excesso" ou se foi porque simplesmente tinha de ser, a verdade é que a partir do 38º km comecei finalmente a sofrer. Durante 20 longos minutos vi-me naquela situação típica de desenhos animados de ter um diabinho no ombro a mandar-me parar e do outro lado um anjo a dizer-me: «não pares! continua a dar às pernas!».
«o click final»
Normalmente no último quilómetro de uma prova, mesmo quando vou todo roto, costumo ter a capacidade para reagir e acelerar. Desta vez cheguei à placa do 41 km e...nada. Em plena Av. da Boavista, já em fase ascendente, seguia eu de olhos fechados para literalmente evitar cair na armadilha visual dos pórticos antes da meta, quando ouço uma voz que me pareceu familiar a perguntar a alguém que seguia a seu lado: "se continuarmos neste ritmo terminamos com 3h15?". Abro os olhos e vejo ao meu lado a "grande" campeã Manuela Machado a envergar o balão de pacemaker das 3h15. Aqui estava o click final que eu precisava. Se tinha conseguido fazer a prova toda a frente do pacemaker, não era agora que iria morrer à beira da praia. Fui buscar forças não sei onde e consegui sprintar para meta para ver o relógio marcar 3h15'12'' (tempo líquido 3h15'02'').
O meu contentamento foi tal que mal terminei dirigi-me ao quiosque da Superbock e bebi uma cerveja preta (*), algo que não fazia desde que por indicação médica (aquando da infecção do citomegalovirus no figado) me foi aconselhado a não beber álcool.
* dado que não fiquei bebado, só posso deduzir que se tratava de cerveja sem álcool :)
Resultado final:
Apesar do garmin se ter baralhado todo, foi me possível obter os seguintes tempos de passagem:
05 km : 0:22:14
10 km : 0:44:41
20 km : 1:31:27
30 km : 2:17:34
35 km : 2:40:33
40 km : 3:04:31
parcelas de 10 km: 44:41 + 46:46 + 46:07 + 46:57
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