Concluí ontem a minha terceira maratona. O resultado final (3h18m34s) não me satisfaz pois não atingi o principal objectivo a que me propus, baixar das três horas e dez minutos.
Considero que foi um passo atrás, não pelo resultado em si, mas por não ter sido capaz de concluir a prova sem parar. Na primeira maratona (Lisboa 2011), parar foi consequência da inexperiência na distância. No ano seguinte, no Porto, ter feito toda a maratona a correr foi o aspecto mais significativo para mim, e que simplesmente garantiu a melhoria do resultado final (3h15 vs 3h31). Chegar à terceira maratona e não saber fazer a correcta gestão de esforço, é de maçarico!
O pré-maratona
A semana que antecedeu a prova foi vivida com grande ansiedade. Na terça feira surgiram os primeiros sinais de reaparecimento da lesão no tendão do adutor da perna esquerda. Na quinta feira, suaves 7 km a mais de 5 minutos ao quilómetro foram feitos com bastante incómodo. Na sexta feira, quando parti para Espanha, ia com grande apreensão, tal era a possibilidade de chegar a Málaga e não estar em condições de correr.
Dividi a viagem em duas etapas: primeiro fui até Sevilha, onde pernoitei de sexta para sábado (com muitas sessões de gelo à mistura, acabei por dormir 11 horas!). No dia seguinte segui para Málaga onde cheguei à hora de almoço. Levantei o dorsal, dei uma volta pela cidade e quando me preparava para regressar ao hotel, fui sujeito a um stress que dispensava de todo. Fiquei preso mais de uma hora num trânsito caótico, tendo tudo culminado com um toque no carro.
Dormi cerca de seis horas e às seis da manhã (cinco nossas) estava a pé. Quer tenha sido pelos anti-inflamatórios, ou pelo bio-freeze / gelo, ou simplesmente pela adrenalina da competição, a verdade é que no domingo não senti qualquer incómodo no adutor.
O percurso e o clima
Nada a apontar. Um percurso praticamente plano e um clima perfeito para correr. A temperatura rondou os 8º/9º à partida e os 15º/16º à chegada, o que permitiu que corresse de t-shirt de competição de alças sem frio ou calor. Apesar de grande parte do percurso ser feito em zona marítima, o equivalente à nossa marginal, o ligeiro vento que se fez sentir, quer a favor quer contra, não teve influência.
Os primeiros kms
Saí da boxe das 3h15. Havia pacemakers para as 3h, 3h15, 3h30 e assim sucessivamente até às 4h45. Fiz um primeiro km despreocupado com a questão do ritmo apenas tentando posicionar-me em terreno livre para correr. O garmin assinalou 4'23''. Fui tirando a pinta aos corredores que seguiam à minha frente e acabámos por naturalmente nos juntarmos 3 com a pretensão de correr para 3h10. Segundo km em 4'21'' e terceiro em 4'20''. Estava a correr cerca de 7/8 segundos mais rápido que o pretendido (4'28''/4'29'') mas sentia-me confortável. Por esta altura passou uma atleta espanhola que ia autenticamente a tagarelar aquele ritmo e colei a ela porque normalmente mais facilmente se formam grupos à volta das senhoras. Os kms continuaram a suceder-se a um ritmo muito estável 4'17'' ~ 4'24'' até aos 14 km.
O erro táctico que ditou a prova
Entre os 14 e 15 km passámos junto à zona da partida / meta e o percurso nessa altura faz uma inflexão para o centro histórico da cidade Málaga. A maior afluência de público e sugestivos «Animo Laura!» que se ouviram nessa altura fizeram com que a minha "lebre" se entusiasmasse e, de acordo com a altimetria do percurso, era suposto corrermos a um ritmo mais lento para mantermos o mesmo nível de esforço, a mulher espeta um km a abaixo de 4'10''. Meio desorientado, não querendo perder a boleia, vejo-me por um lado a querer seguir e por outro a querer conter. Resultado, nem uma coisa nem outra. Dois km a 4'13'' e um a 4'00'' (efeito descida) e acabei por ficar sozinho.
Consegui estabilizar o meu ritmo sozinho, novamente nos 4'20'' e passei à meia maratona em 1h32'30''. A essa altura pensei seriamente que tinha comprometido a prova com aqueles três kms.
O carrossel de emoções
Apesar de fisicamente não sentir qualquer sinal de desgaste, a mente ficou pela primeira vez enublada com pensamentos negativos. Fui nos quilómetros seguintes a repreender-me por não ter sabido conter-me e não ter mantido o meu ritmo mesmo que isso implicasse ficar sozinho (como acabei por ficar). Foi a primeira fase negra, depois de um 22º km em 4'21'' seguiram-se dois em 4'37''/4'38'', os primeiros corridos acima de 4'30''.
Entre os 24 aos 30 kms fui tentando recuperar o controlo emocional e focar-me simplesmente na acção funcional - correr o mais descontraído possível e tentar não pensar em mais nada. Abro aqui um parênteses para referir que até essa altura, a barreira das 2 horas de prova, cumpri escrupulosamente o meu plano de abastecimento, um gel a cada meia hora, para além dos líquidos que a organização colocou à disposição.
Chegado ao quilómetro 30 com 2h13'42'' (*), e tendo conseguido continuar a "misturar" kms corridos a "quatro-vintes" com outros a "quatro-trintas", convenci-me, literalmente que tinha as sub 3h10 no bolso!
Puro engano! Bastaram dois km para que o estado de espírito de (nova) euforia se esfumasse e finalmente o «senhor da marreta» aparecesse manifestando-se numa dor nos quadriceps como só ainda senti nas maratonas anteriores. Tentei minimizar o estrago antecipando a toma do gel, mas não fez qualquer efeito: 33º e 34º km feitos a rondar os cinco minutos (4'52'' / 4.56'') e o 35º e os 36º já acima dos 5'10'' (5'15'' / 5'16'').
Às 2h43'58'' não resisti e parei. Caminhei durante 1'30'', tomei o último gel, mas já não havia nada a fazer...apenas seguir em registo «correr&andar» até à meta .
Síntese
Apreensão, entusiasmo, nervosismo, confiança, controlo, descontrolo, ambição, burrice, luta interior, euforia, derrota, são tantas as fases porque se passa numa maratona, que nos faz querer voltar até se atingir a (nossa) vitória.
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Tempos parciais nas placas da organização (difere do gps):
Dist._____Parciais 5 km____Tempo Acum.__Estimativa
05 km | 0:22:08 (4:26/km) | 0:22:08 (4:26/km) | 3:06:47
10 km | 0:21:46 (4:21/km) | 0:43:54 (4:23/km) | 3:05:14
15 km | 0:22:00 (4:24/km) | 1:05:54 (4:24/km) | 3:05:21
20 km | 0:21:56 (4:23/km) | 1:27:49 (4:22/km) | 3:05:17
25 km | 0:22:52 (4:34/km) | 1:50:41 (4:26/km) | 3:06:49
30 km | 0:23:01 (4:36/km) | 2:13:42 (4:27/km) | 3:08:03
35 km | 0:24:51 (4:58/km) | 2:38:33 (4:32/km) | 3:11:09
40 km | 0:28:35 (5:43/km) | 3:07:09 (4:41/km) | 3:17:25
(*) pode considerar-se uma espécie de recorde pessoal de consolação, antes 2h16'36'' em 2011 na passagem a essa distância na maratona de Lisboa.