Para quem, como eu, nunca tenha visitado Nova Iorque e esteja a pensar correr a maratona, aqui fica o aviso: não sendo impossível, conciliar as duas coisas é um enorme desafio!
Tudo começou com a viagem. Saímos na 4.ª feira de manhã, por volta das 11 horas. Escala em Madrid por questões orçamentais, seguida de uma longa jornada de mais de 8 horas até aterrar no aeroporto JFK. Passar controlo, bagagem, apanhar táxi...quando chegámos ao hotel, pouco mais houve a fazer que ir comer qualquer coisa perto e...cama.
Quinta e sexta, foram dias de muitos quilómetros palmilhados. Levantar dorsal, visitar a feira e iniciar a descoberta da cidade: Times Square, China Town & Little Italy, Wall Stret, Memorial do 11 de setembro, Empire State Building, Docas do East River, etc.
Sábado de manhã, viagem de ferry até a State Island com duplo intuito: simulação do trajecto e dos transportes necessários para chegar a tempo à partida no dia seguinte, aproveitando para ver a Estátua da Liberdade.
Com as pernas feitas num oito pedi licença à comitiva e baldei-me ao programa da tarde: Macy's, Central Station e Edifício da Chrysler.
No domingo, a alvorada foi dada às 4h45, uma hora antes da hora prevista para apanhar o ferry. Por sorte, a hora em NY mudava nesse dia (01 de novembro), o que significou mais uma hora na cama.
Dado que a partida era só às 9h50, a espera foi estrategicamente feita dentro da estação do ferry, retardando ao máximo a ida para rua para apanhar o autocarro que nos levou até à ponte Verrazano.
Em relação à prova em si, gostaria de começar pelo «plano de corrida». Depois do que se passou em Roterdão (a falta de um plano B...), fui para Nova Iorque com objectivos graduados. O objectivo ambicioso era baixar as 2h57. O ritmo de marathon-pace (6:43/mi) tido como referência ao longo da preparação era para 2h55, mas teve sempre subjacente a necessidade de uma margem de 4 minutos por causa das dificuldades do percurso. O objetivo principal era baixar as 3 horas, mas desta vez, era ponto de honra, ter um objectivo tipo "serviços mínimos" e que obviamente era bater o meu recorde pessoal (3:05:01).
Em relação à estratégia para a prova, a mesma assentou em 4 pontos básicos:
1. Dado que a primeira milha era a subir e a segunda a descer (ponte Verrazano), defini que o tempo acumulado das duas milhas se devia ser de 14 minutos (média 7 min à milha).
2. A primeira meia maratona teria de ser feita da forma mais confortável possível sem qualquer pressão para um tempo de passagem específico.
3. Não forçar na subida da ponte do Queensboro e resistir à tentação de embalar na descida (milha 15-16) e posteriormente NÃO acelerar na Primeira Avenida (milha 16-18) por causa da euforia transmitida pela multidão que está a assistir.
4. Depois de passar a milha 20, pura e simplesmente "aceitar a dor" e esperar que o doping emocional (planeada um último avistamento da família por volta da milha 23-24) fizesse efeito.
E como é que executei essa estratégia?
Pois bem:
Ponto 1. Acertei na mouche, fiz 14 minutos exactos com um parcial 7:15 (a subir) e 6:45 (a descer).
2. Outro ponto que cumpri na perfeição, cheguei "fresco" à meia maratona (passagem 1:29:45). Fiz por não olhar para os parciais à milha que o Garmin me ia dando. Apenas em algumas placas olhei para o tempo total e mentalmente assegurei que o tempo acumulado que eu tinha era inferior a 7 vezes o número da milha em que estava.
3. Temi demasiado a ponte do Queensboro. A subida, apesar de longa, não foi tão difícil como eu esperava. Fiquei com a sensação que não era necessário ter sido tão conservador, poderia ter passado 1 minuto, 1 minuto e meio, mais rápido à meia maratona. Fiz a descida com cautela e resisti ao choque de adrenalina que sente com a entrada na Primeira Avenida.
Se resisti a esse primeiro impacto, já não fui tão bem sucedido quando, pouco antes da milha 18, avistei a minha mulher e o meu filho. Até aí segui no grupo do pacer das sub-3 horas, mas com excitamento, quando dei por mim tinha ganho um avanço considerável. Tal foi sol de pouca dura, pois quando entrámos na zona de Harlem (milha 20) fui passado pelo grupo do pacer e a luta mental começou.
4. A passagem na Quinta Avenida é desafiante, na prática são quase duas milhas (23-24) de subida ligeira mas contínua. Apesar de ter conseguido ultrapassar os demónios (pensamentos negativos) do Harlem/Bronx, por mais que eu dissesse às pernas para continuarem a andar, o ritmo por milha estacionou acima dos 7 minutos...
Entrei no Central Park consciente que as sub-3 horas já não eram possíveis. Ainda assim, havia que trabalhar para cumprir os "serviços mínimos". Prova superada, a nova melhor marca passou a ser de 3:03:05 (ou seja o Kimetto dá-me mais de 1 hora de avanço... :p ).
Por ser difícil por em palavras o quão especial esta experiência foi e retratar todas as emoções vividas, optei por fazer esta crónica com um distanciamento suficiente para que ficasse apenas restringida ao registo típico de "caderninho de registo de treinos" que este blogue tem.
Mas deixo-vos a sugestão, podendo, a maratona de Nova Iorque é A prova a fazer!
1 comentário:
Crónica excelente, Nuno!
Dá para ter uma noção da tua prova.
Rápida recuperação!
Grande abraço
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